19/02/2010

Meu mundo era meu quintal

Ontem estava lembrando da minha infância, de como tudo era mais fácil. Lembrei-me do portão marrom com um pedaço de arame na ponta, aquele arame era a certeza da minha mãe que eu não iria escapar. Eu olhava lá de baixo e ficava pensando no dia eu que eu iria alcançar a minha liberdade.

Eu passava horas observando o movimento da rua, era uma das coisas que eu mais gostava de fazer naquela idade. Lembro-me muito bem do pamonheiro passando e gritando: “olha o pamonheiro, barateiro, pamonha nova pelo preço velho” eu achava muito engraçado, sempre que eu o via, saia correndo chamar minha mãe, não para comprar, mas sim para ver as rimas do “Sr. Pamonheiro “, ela também o achava engraçado.

Naquela rua se passava de tudo, me lembro do “Ademir loko” meu pai sempre me dizia que ele trabalhava para o homem do saco, sempre que eu o via, saia correndo deixando meus brinquedos para trás e rezava para que ele também não alcançasse aquele arame. Ele se quer olhava para minha casa. Ainda bem.

Um dos grandes ápices da minha infância foi quando eu aprendi a subir na arvore, foi de lá de que eu percebi que o Ademir loko nem olhava para minha casa. Aquela arvore era meu playground, ela foi balanço, casa, esconderijo, cama, minha verdadeira sombra, passava mais tempo com ela do que com meu bonequinho do Chuck Norris.

Lembro-me também do espaço que eu tinha em casa, me sentia privilegiado, era um terreno de 25x30m, ali eu podia correr, pular, me sentia livre mesmo sem saber o que era liberdade, e o melhor de tudo, tinha terra, aquela terra bem marrom que minha mãe passava horas no tanque para tentar tirar das minhas roupas brancas. Coitada. Dia triste foi quando meu pai resolveu cimentar o quintal, lembro-me que chorei muito.

Outro dia assustador foi quando o muro que fazia sombra para o quintal resolveu despencar dos seus 15 metros de altura. Nunca tinha visto minha mãe e meu pai desesperado. Meu irmão mais velho tinha desaparecido, minha mãe com seu desespero tirava as pedras, entulhos com as unhas e gritos. Eu fiquei paralisado. Lembro-me muito bem que meu irmão chegou sem saber o que estava acontecendo e começou a ajudar minha mãe a tirar as pedras do muro desbarrancado, ela demorou cerca de 5 minutos para perceber que ele estava do lado dela, foi uma cena engraçada e trágica ao mesmo tempo, foi lindo ver ela abraçando ele, chorando e rindo em um borbulho de emoções. Ate hoje é uma historia que cotamos em roda de família.

O grande dia foi quando o os portões marrons se abriram para mim. Era meu primeiro dia no prézinho e o primeiro sem minha mãe por perto para me dizer o que era certo e o que era errado. Enfim liberdade. Mas a lembrança mais forte que tenho dessa época, era a vontade de voltar para meu mundinho, o meu quintal.



2 comentários:

driele pedroso disse...

Pois é, todo mundo quer voltar pro mundo lindo que conhece quando entra na escolinha
;*s2

Space Monkey. disse...

Bem legal o texto cara!
Parabéns bro, ta ficando bonito! ^^

abraço!

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